quinta-feira, dezembro 23, 2004

Para fins Natalinos...

Venho pensando por muito tempo, que o Natal não é mais o que costumava ser. Para ser
sincero, nem consigo dizer se fui eu [ou o mundo] quem mudou, apenas percebo que algo
diferente se imprime em mim nesta época. O tão vivaz colorido, o tão dissonante branco e
vermelho, tudo isto parece não ter mais a mínima graça, e me pergunto: onde estão as
bolinhas de vidro que se penduravam na árvores gigantes de Natal? Seria até plausível
questionar de onde vinham tais árvores? Eu não sei se fui eu que cresci ou se foram as
árvores que diminuíram, porque tudo isto pode ser um simples apelo à teoria de Freud.
Segundo ele, todas as minhas memórias, moradas do inconsciente, são interpretadas da mesma
forma, independente do tempo que se passou. Quer dizer então, que há um grande choque entre
o momento presente e minha antiga memória. Eu nasci em 1983, tenho meus vividos 21 anos, que
considero pouco em escala cronológica, mas como somos todos escravos do tempo, a única
diferença reside na complexidade da lembrança. Cá estou eu, pensando e relembrando como
foram meus Natais. Serei breve porque de muitos não recordo, tampouco compreendo e talvez
seja melhor assim, mas a sensação, aquela sensação que carregava comigo de alguma forma se
esvaiu. Hoje em dia as pessoas vão ao shopping e compram as mais miúdas árvores e Natal, as
mais exíguas ceias e agradecem aos céus por isso, eu me pergunto: as pessoas empobreceram ou
o mundo encareceu? Acho que esta é mais uma daquelas perguntas tostines, tão bem preparadas
para confundir todo mundo. Talvez as pessoas queiram menos trabalho: montar e desmontar uma
árvore é uma complexa tarefa, que exige algumas horas, tão preciosas, onde o ser poderia
estar trabalhando um pouco mais para consegui completar o que falta no bolso, porque
dinheiro é o mal da humanidade, e todo mundo sabe, mas ninguém vive sem ele. Às vezes paro
pra me perguntar em que momento tudo ficou tão incolor, tão insosso, em que hora o fulvo
natalino transformou-se num cinza desmitificado, meramente monetário. Por que já não há o
aspecto jocoso do Natal? Por que quando ligo televisão já não vejo mais o tão simplório e
certo "esqueceram de mim" em suas duas versões, tão fiéis a esta época do ano, e me sentava
lepidamente em frente ao ecrã e delineava por horas e horas num sorriso quase que inacabado?
Por que os presentes de hoje nunca me fazem rir como eu ria antigamente? às vezes, eu
simplesmnte paro, olho desnorteado para um ponto de fuga e m prguno, tão sincero, que minhas
pálpebras tremulam: será que fui eu ou o mundo que mudou?